Fissuras Labiais, Palatais e Labiopalatais

Saiba mais sobre Fissuras Labiais, Palatais e Labiopalatais

Uma fissura facial ocorre quando os processos de formação das estruturas da face não ocorrem adequadamente.

Quando a face é formada, várias estruturas se compõem e se movimentam. Uma estrutura central se forma, dando origem às estruturas entre os olhos, formando parte do nariz e a parte central do lábio. Lateralmente, unidades embrionárias se movimentam de encontro a esta porção central.

Problemas podem ocorrer, de diferentes origens e causas, durante este processo de formação e movimentação dos tecidos, levando a falta de união destas estruturas. No local em que estas unidades não se unem, ocorre uma falha de tecidos (pele, músculos, osso) e a chamada fissura ou fenda ocorre.  A região mais comum disso ocorrer é nos lábios e no palato, podendo comprometer também parte do nariz e da arcada dentária. À medida que este processo se torna mais comprometido, a deformidade aumenta e os efeitos sobre o lábio, o nariz e o alvéolo e o palato se tornam mais aparentes.

Fissuras do lábio e do palato podem ocorrer devido a vários problemas nos mecanismos embrionários de formação destas estruturas. As fissuras que acometes somente o palato tem processos envolvidos um pouco diferentes das fissuras exclusivas do lábio e daquelas que acometem simultaneamente o lábio e o palato.

Fissuras labiopalatais (FLP) são relativamente comuns e a incidência aproximada é de 2,1:1000 nascidos vivos na Ásia, 1:1000 em caucasianos e 0,41:1000 em afro-americanos. Fissuras labiais isoladas ocorrem em 21% da população afetada, enquanto 46% dos casos envolvem o lábio e o palato e 33% são fissuras palatinas isoladas. Fissuras labiais (FL) esquerdas são mais frequentes que direitas e bilaterais numa relação de 6:3:1 e mostram predominância no sexo masculino.

No Brasil estima-se que 1 em cada 600 a 700 crianças tenham o diagnóstico.

Origem

Inúmeras causas podem levar a ocorrência de FLP e mais de uma causa pode estar presente concomitantemente, aumentando o risco.  Por isso dizemos que a origem é multifatorial, com componentes genéticos e ambientais envolvidos. Aproximadamente 33 a 36% dos casos tem história familiar positiva. Fissura do lábio e/ou do palato estão associadas a mais de 150 síndromes diferentes. 

Causas ambientais incluem infecções virais (rubéola), uso de medicações específicas durante a gestação, como corticosteróides e anticonvulsivantes. Existe associação conhecida entre uso abusivo de álcool e tabagismo, principalmente durante o primeiro trimestre de gestação. O risco também aumenta com idade avançada dos pais (>30 anos) e a idade do pai parece ser mais influente que a da mãe.

Como se dá o diagnóstico?

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Diagnóstico

O diagnóstico das FLP pode ser feito ainda antes do nascimento, em exames de ultrassom pré-natal. O diagnóstico de fissuras palatinas (FP) isoladas é comparativamente mais difícil nesta época. Quando não realizados, o diagnóstico é realizado ao nascimento, ainda na maternidade. A partir de então, uma investigação mais detalhada se faz necessária, incluindo a pesquisa da presença de outras alterações congênitas em outros órgãos e sistemas.

Como as FLP ocorrem em determinado período da formação fetal, deve-se pesquisar outras malformações em estruturas que tem sua formação na mesma época de vida intrauterina.

Apesar do diagnóstico ser realizado precocemente e o tratamento global das FLP ser realizado precocemente e iniciado com medidas específicas ainda na maternidade, as cirurgias devem ser realizadas em momentos específicos, sendo o primeiro procedimento (para o lábio) recomendado ao redor dos 4 meses de vida. 

Pacientes com FLP ou FP podem ter diversas condições de saúde alteradas e merecem uma pesquisa ativa e cuidados especiais pela equipe terapêutica. 

O tipo de fissura e o grau de intensidade podem ser classificados de várias formas. Estas classificações visam um melhor mapeamento das estruturas envolvidas e melhor comunicação entre os profissionais que assistem ao paciente. Um tipo de classificação bastante utilizado divide as FLP naquelas que ocorrem para frente de uma estrutura localizada no palato duro, chamado forame incisivo. Assim, fissuras que estão à frente são chamadas pré-forame e envolvem os elementos do lábio, da arcada dentária e nariz.

As fissuras que ocorrem para trás do forame incisivo são chamadas de pós-forame e envolvem somente o palato duro e mole. E as fissuras que cruzam o forame incisivo são chamadas de fissuras transforame e normalmente comprometes as estruturas do lábio, arcada dentária, nariz e palato.

Esta classificação foi proposta há mais de 50 anos, por um cirurgião plástico brasileiro e recebe o nome de Classificação de Spina, em sua homenagem. Ainda, as fissuras podem ser subclassificadas em completas e incompletas, uni ou bilaterais.

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Veja algumas destas situações mais frequentes:

Problemas alimentares: comprometimento da sucção e deglutição, refluxo na cavidade nasal. A fissura impede o desenvolvimento de sucção efetiva. No entanto, o mecanismo de deglutição é normal.

Anormalidades da fala: são intrínsecas e decorrentes do desarranjo anatômico. Um mecanismo de movimentação do palato mole é fundamental para a produção dos sons adequados. Os problemas da fala podem ser decorrentes de distúrbios articulatórios ou propriamente do posicionamento muscular inadequado.

Doenças do ouvido médio: o distúrbio anatômico associado a fissura palatina afeta a função da tuba auditiva. Há aumento da ocorrência de otites devido a problemas no esvaziamento adequado de secreções pela tuba auditiva e a perda auditiva é atribuída em parte aos episódios infecciosos repetitivos. Há evidências de que o reparo do palato diminui a incidência de infecções.

Anormalidades do crescimento facial: múltiplos estudos demonstram que a maxila com fissura apresenta algum grau intrínseco de distúrbio de crescimento. Este déficit de crescimento, no entanto, pode ser muitas vezes visualizado somente na idade adulta, pelo aspecto de retração da maxila, que exige muitas vezes tratamento cirúrgico por meio de cirurgias ortognáticas.

Deformidades associadas: em cerca de 29% dos pacientes com fissuras podem haver outras deformidades e malformações associadas. São mais frequentemente associadas a fissuras palatinas isoladas do que a FLPP. A maioria destas anomalias envolve os sistemas esquelético e circulatório.

Cirurgia Lábio Leporino. Imagem: Google.

Como é feito o tratamento?

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Tratamento

O tratamento das FLP é multidisciplinar, ou seja, envolve múltiplos especialistas de várias áreas profissionais. O tratamento não é apenas pela cirurgia plástica e pediatras, fonoaudiólogos, dentistas e cirurgiões plásticos trabalham em equipe para a obtenção do melhor resultado possível em longo prazo.

As técnicas modernas de reparo buscam realizar logo após o nascimento, por meios não cirúrgicos, o direcionamento as estruturas, por meio de moldagem e tração das estruturas faciais. Estes procedimentos chamados genericamente de modelagem naso-alveolar, buscam redirecionar o crescimento das estruturas afetadas, facilitando os procedimentos que virão em seguida.

O posicionamento precoce e a reconstrução funcional das estruturas na idade correta visam ao mesmo tempo obter resultados estéticos adequados e boa função muscular, que trazem a face para uma situação natural de normalidade.
Especificamente com relação às cirurgias, a ênfase tem sido no restabelecimento anatômico e funcional da integridade da musculatura oral e na reconstrução nasal simultânea.

O reparo do lábio, realizado ao redor do 4º mês de vida é simultâneo ao início do reparo nasal e oferece melhorias duradouras que são obtidas sem efeitos deletérios ao crescimento e desenvolvimento das cartilagens nasais.

 

Em uma criança que possui uma FLP com todos os componentes afetados a sequência de cirurgias, se todas as condições clínicas forem adequadas, ocorre aproximadamente nas seguintes idades:

Momento do reparo - Idade e Cirurgia

4-6 meses Cirurgia do lábio (chamada queiloplastia ou labioplastia)

12-18 meses Cirurgia do palato (chamada palatoplastia)

7-10 anos Correção da falha óssea alveolar (da maxila) com enxerto ósseo

Adolescência Eventual cirurgia nasal estética e funcional complementar

16-18 anos Cirurgia ortognática, quando indicado

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Plano de Tratamento

O tratamento se inicia com a avaliação pelos profissionais na maternidade. O pediatra neonatologista avalia a deformidade imediatamente após o nascimento e aciona os profissionais envolvidos nos primeiros cuidados: o cirurgião plástico que fará o diagnóstico especializado e a fonoaudióloga que iniciará o processo de orientação quanto a amamentação função de sucção. Neste momento explicamos aos pais e familiares sobre a real dimensão da deformidade e quais serão os primeiros passos. Tudo com calma e planejamento, afinal nenhuma cirurgia será realizada de imediato, pois estudos mostram que estes procedimentos não atingem os mesmos resultados de qualidade em longo prazo.

Na alta da maternidade a criança já foi adaptada e os pais orientados em termos da maneira mais adequada de alimentar o bebê, que pode variar, mas em muitos casos é realizada da maneira convencional, ou seja, por aleitamento materno. Nos casos em que isso não é possível, a melhor maneira será obtida.

 Conheça os Tipos de Cirurgias

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Cirurgia do Palato

Realizada ao redor do 12º – 18º mês de vida, visa reposicionar e restabelecer a continuidade das estruturas musculares do palato, de maneira a separar as cavidades bucal e nasal e permitir o movimento adequado do palato mole durante a fala. O grande objetivo é a separação entre as cavidades oral e nasal com reposicionamento da musculatura do palato mole de modo a recriar anatomicamente o palato e restabelecer a fala normal.

É uma cirurgia funcional, que tem como objetivo principal a obtenção do funcionamento adequado da musculatura do palato, impedindo o escape de ar entre a orofaringe e a nasofaringe.

O reposicionamento muscular auxilia também no funcionamento adequado da tuba auditiva, reduzindo assim os riscos de otites médias, muito frequente em pacientes portadores de fissuras palatais. O procedimento é realizado sob anestesia geral e a criança permanece 1 a 2 dias no hospital. Logo após o procedimento o bebê volta a se alimentar, porém com cuidados especiais, evitando temporariamente o uso de mamadeira.

Recebe medicações para o combate da dor e prevenção de infecções. Os fios de sutura utilizados nos pontos são absorvíveis e não precisam ser retirados. Durante os primeiros 15 dias seguem cuidados com o tipo de alimentação e limpeza local, a fim de obter o melhor resultado possível.

A terapia fonoaudiológica pós-operatória é fundamental para a obtenção de resultados eficientes. A cirurgia realizada na idade ideal ocorre um pouco antes do início da fala, de modo que a criança irá aprender os fonemas já operada, aumentando as chances de uma fala adequada e clara.

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Cirurgia Ortognática

E cerca de 20% dos pacientes com FLP, o desenvolvimento da maxila pode ser insuficiente. Isto se deve a uma somatória de fatores, como o potencial de crescimento individual e a ocorrência das cirurgias prévias.

O posicionamento do maxilar pode estar mais para trás do que deveria. Mesmo com cirurgias corretamente realizadas e o cuidado ortodôntico adequado durante a infância, alguns pacientes chegarão ao final da adolescência com a maxila não adequadamente posicionada, necessitando de um avanço ósseo.

O acompanhamento ortodôntico, entretanto, se faz fundamental a fim de minimizar a deformidade nestes casos e facilitar uma futura cirurgia. Nos casos em que este procedimento é necessário, ele é realizado após a maturidade óssea ser atingida, ao redor de 16 anos para mulheres e 18 anos para homens.

O processo cirúrgico envolve o uso prévio de aparelhos ortodônticos, a fim de alinhar e nivelar as arcadas dentárias, em preparo para a cirurgia. Os procedimentos movimentam a maxila e eventualmente também a mandíbula, a fim de obter uma relação harmônica entre as estruturas ósseas da face, com boa oclusão, respiração e aspecto estético.

O procedimento cirúrgico é realizado sob anestesia geral, com internação de 1 a 2 dias. Cuidados especiais quanto a mastigação, controle da dor e prevenção de infecções são instituídos. O período de recuperação é de 2 a 4 semanas, conforme os tipos de cirurgias realizados.

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Cirurgia do Lábio

Realizada ao redor do 4º mês de vida, visa restabelecer a continuidade das estruturas musculares e da pele com o cuidado de alinhar todas as estruturas do lábio e nariz, corrigir e simetrizar a altura e contorno labial.  

Nesta cirurgia também podem ser corrigidos parcialmente os defeitos internos da gengiva. O procedimento é realizado sob anestesia geral e a criança permanece 1 dia no hospital. Logo após o procedimento o bebê volta a se alimentar normalmente.

Recebe medicações para o combate da dor e prevenção de infecções. Em média 1 semana após a cirurgia são retirados os pontos. Seguem cuidados cm as cicatrizes a fim de obter o melhor resultado possível.

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Cirurgia de enxerto ósseo alveolar

Com o crescimento da criança e das estruturas faciais vai ocorrendo a irrupção (descida) dos dentes de leite e dos dentes definitivos. Em toda a infância é muito importante o acompanhamento ortodôntico a fim de corrigir o formato da arcada dentária e garantir o posicionamento adequado dos dentes. Uma das funções da ortodontia é minimizar a severidade dos distúrbios de crescimento. As intervenções variam conforme o tipo da fissura e podem ser utilizados para realinhamento da pré-maxila, expansão transversa da maxila, correção da oclusão e do padrão facial. O tratamento ortodôntico pode ser iniciado precocemente

Na região da maxila próxima a gengiva, pode haver uma falha óssea na área da fissura que coincide com a posição de descida do canino permanente. Para que este dente possa descer, é necessária a presença de osso na maxila e a falha óssea deve ser tratada. O procedimento de enxerto ósseo utiliza uma pequena porção de osso do próprio paciente (normalmente retirado da região da bacia por meio de uma pequena incisão) para preencher este intervalo ósseo. A cirurgia é realizada antes da descida do dente canino e o momento ideal ocorre ao redor do 7º-10º ano e é avaliado por meio de radiografias pré-operatórias e indicado conjuntamente com o ortodontista.

O procedimento é realizado sob anestesia geral e a criança permanece 1 dia no hospital. Logo após o procedimento o bebê a criança volta a se alimentar, porém com cuidados especiais.  Recebe medicações para o combate da dor e prevenção de infecções. Os fios de sutura utilizados nos pontos são absorvíveis e não precisam ser retirados.

Os objetivos da reconstrução incluem:

  • Restauração da morfologia normal e da função, relacionados ao adequado desenvolvimento dentário, mastigação audição, fala e respiração. 
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Rinoplastias

A primeira cirurgia nasal ocorre conjuntamente com a cirurgia do lábio. Entretanto, com o crescimento e desenvolvimento, algumas alterações do nariz podem ocorrer. Desvios do septo nasal, hipertrofia (aumento) das conchas nasais com queixas respiratórias e alterações na forma do nariz podem estar presentes ao longo dos primeiros anos de vida. O momento de corrigi-las varia conforme a queixa do paciente, mas em geral na adolescência encontra-se um bom momento para a realização destes procedimentos estéticos e funcionais. Na rinoplastia, utilizamos as técnicas frequentemente aplicadas nas rinoplastias estéticas contemporâneas, com algumas modificações especiais. Também são procedimentos realizados sob anestesia geral, com 1 dia de internação.

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